Aqui está o folar da Páscoa, típico de Trás-os-Montes.
Na verdade eu ainda tive o privilégio de assistir a vários rituais tradicionais que hoje já não existem, quando era pequena e ia de férias para a aldeia.
As mulheres da aldeia juntavam-se em grupos de duas ou três para amassarem e cozerem o pão e os folares da Páscoa no forno comunitário, ou nos vários privados que os mais abastados possuiam.
Eu era muito pequena e ficava impressionada com todos os passos daquela imensa dança que era fazer a massa. Invariavelmente mandavam-me estar quieta ou fechar a porta para a massa não se "constipar", fazer pequenas tarefas como derreter o sal na água, ir buscar isto ou aquilo. Para uma criança da cidade habituada a que a padeira deixasse o pão à porta estes rituais soavam-me a alquimia.
Quando as fogaças já estavam prontas e eram metidas no forno, marcavam-se com pauzinhos ou buracos na massa, para saber o que era de quem, puxavam-se as brasas para a entrada e tapava-se o forno. Em seguida rezava-se uma salvé-rainha para que a fornada saísse bem cozida e saborosa. Sim, que nestas tarefas mais vale invocar a protecção divina, não vá o diabo tecê-las.
Com os folares era a mesma coisa com a diferença da quantidade de azeite e manteiga derretida que se juntava à massa e as dúzias de ovos ( caseiros) que levava. Depois eram as carnes de chouriço, salpicão e presunto que se tinham reservado do fumeiro, feito na matança do porco, no Inverno.
A grande chatisse é que os folares, lá em casa, eram feitos sempre na sexta-feira santa e não se podia comer carne. Era só salivar quando as formas com os folares começavam a ser trazidos do forno para casa. Felizmente a minha avó era previdente e fazia sempre um folar sem carne para podermos provar. Sábado começava a desforra com folar logo ao pequeno almoço.
Este folar não foi feito com ovos caseiros, as carnes foram compradas, não acendi o forno de lenha, embora tenha um na minha cozinha, não o amassei à mão nem segui todas aquelas voltinhas mas ficou muito bom e deu para satisfazer o gosto de ter e comer um folar da Páscoa como os da minha infância.
FOLAR
1kg de farinha
8 ovos inteiros
60 grde fermento de padeiro
3 dl de azeite
2dl de margarina derretida
1 c.chá de sal
carnes fumadas variadas cortadas
Desfaz-se o fermento em pouca água morna. Junta-se metade da farinha, mistura.se e vai-se juntando os ovos um a um. Acrescenta-se o azeite com a margarina derretida e morna, a restante farinha e o sal. Amassa-se tudo e a massa deve ficar mole, se for necessário deve juntar-se um pouco de água ou leite.
Deixa-se levedar 2 horas em lugar aquecido. Divide-se a massa em três partes e forra-se uma forma untada com uma camada espalham-se bem as carnes, alterna-se com massa e carne até terminar com massa. Vai ao forno médio a assar até estar bem cozida.
Em alternativa usa-se a MFP colocando primeiro todos os líquidos e depois os sólidos. Depois seguem-se os passos descritos.
Agora vou esperar o "Compasso" que está aqui a chegar, não tarda nada. Embora esteja no Minho também por aqui ainda se mantém esta tradição da visita da Cruz do Senhor, às casas católicas. BOA PÁSCOA.
Só deliciosas tradições.
ResponderEliminarFicou excelente.
bjss
Ai Noémia, que lindo!!! É precisamente nesta altura da Páscoa que mais sinto saudades da aldeia da minha mãe, e isso tudo que tu descreves fez-me lembrar ainda mais... que liiiiiindooo!!
ResponderEliminarSe há época que detesto passar na cidade é esta, mas este ano teve que ser. Aqui uma pessoa nem sabe se é Páscoa ou não :(
Mas enfim, haja saúde... :)
beijinhos
Excelente introdução, como é bom recordar os tempos de infancia, sobretudo se esses foram felizes.
ResponderEliminarUma deliciosa receita, apesar de nunca ter comido ou feito recheados com carne.
No Sul de Portugal temos por tradição comer e fazer os folares doces não salgados.
Espero que tenhas tido uma Páscoa feliz x
Noemia,
ResponderEliminarVim a conhecer esta tradicional receita portuguesa apenas depois de começar a frenquentar os blogs de culinária. No Brasil, até onde sei os folares não são conhecidos. Sou do litoral do Estado de Santa Catarina, que tem forte influência da colonização portugues refletida na culinária, e nunca vi minha mãe ou avós os mencionarem. Adorei a sua descrição dos "rituais" da época. Fez-me lembrar minha avó paterna que assava os pães feitos com fubá e as roscas de polvilho em forno a lenha que ficava no quintal ...
marlene