A quinta está em plena produção de favas e ervilhas de quebrar, por isso há que as aproveitar e cozinhar de todas as maneiras.
Porque não seguir as sugestões dos grandes mestres? Não, não me refiro aos chefes de cozinha mas aos nossos escritores...
"E já espreitava a porta, esperando a portadora
dos piteus, a rija moça de peitos trementes, que emfim surgiu, mais esbrazeada,
abalando o sobrado―e pousou sobre a mesa uma travessa a trasbordar de arroz com
favas.
Que desconsolo! Jacintho, em Paris, sempre abominára favas!... Tentou todavia
uma garfada timida―e de novo aquelles seus olhos, que o pessimismo ennovoára,
luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma lentidão de
frade que se regala. Depois um brado:
―Optimo!... Ah, d'estas favas, sim! Oh que fava! Que delicia!
E por esta santa gula louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixo
remexiam as panellas, o Melchior que presidia ao brodio...
―D'este arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo!
O homem optimo sorria, inteiramente desannuviado:
―Pois é cá a comidinha dos moços da quinta! E cada pratada, que até suas Incellencias se riam... Mas agora, aqui, o Snr. D. Jacintho, tambem vae engordar e enrijar!"
Eça de Queirós, A cidade e as Serras, Lello & Irmão editores. 1901
1 comentário:
É verdade, o que não falta agora são favas! Eu não sou grande apreciadora, gosto muito delas escoadas, mas de resto não me interesso muito. Mas uso imenso nas sopas!
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