segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O JOGO DO ANJO


Terminei hoje de ler, às 3h30m da madrugada, « O jogo do Anjo».
Já sei sou doida! Que lindas horas para ir para a cama quando no dia seguinte é dia de trabalho. Também foi o que me disse o meu marido.
Mas leitura para mim é assim, sem horas, sem ninguém que nos interrompa, sem obrigações nem compromissos a não ser com o livro que temos nas mãos!
Normalmente é a isso que eu chamo férias e que fiz durante este fim de semana.

Quanto ao livro, como devem calcular pelo acima descrito é cativante, enreda-nos num sem número de peripécias e mistérios e não conseguimos largá-lo até ao final.

Costuma-se dizer que em equipa vencedora não se mexe.
Acho que Zafón fez isso.
Enquanto li as primeira páginas achei o livro “morno”, as espectativas eram altas depois da « Sombra do Vento ». O enredo avança e eu penso, bem é giro mas não tem força. As personagens não nos convencem. Há muita coisa igual ao outro, parece uma cópia.Vai ser um policial. Mas surpreendentemente, não é assim.O estilo jornalístico confere à narrativa um ritmo rápido, o entrar e sair de personagens mais os capítulos curtos, aceleram e a narrativa torna-se alucinante e alucinada. Misterioso sim, policial sim, com muitas mortes mas muito interessante.

Zafón, retomou a mesma Barcelona, mais cedo, no ano de 1917, e a mesma livraria Sempere com o avô e o pai do Daniel, da «Sombra do Vento». Retomou também Barceló, o cemitério dos livros e um escritor, desta vez David Martín, que é também jornalista. Há um protector rico, Vidal; um amor impossível, Cristina; uma apaixonada que se torna a melhor amiga, Isabelle e toda uma galeria de personagens mais ou menos importante que vai cruzando e saindo da vida deste David. O paralelismo entre as vivências de David e de outro escritor, que habitou na mesma casa, tornam-se flagrantes e ele vai tentar descobrir o porquê, para salvar o seu destino e tentar ser feliz. E depois, há o patrão, alguém que lhe encomenda um livro especial. O patrão...sempre presente, omnipotente, desconcertante, determinante em toda a história...o Patrão!

Os capítulos são curtos, Zafón cortou às descrições prolongadas e às reflexões filosóficas, transformou-as em diálogos das suas personagens.
Em volta deste escritor jovem e talentoso que acaba por escrever um único livro com o seu nome e “ montes “ deles com nomes de outras pessoas, discute-se o bem e o mal, a vaidade humana e o preço da alma, a morte e a vida, a crendice, o espiritismo e a espititualidade, o amor, a amizade e a literatura, sem nunca se falar abertamente sobre isso.
Deixo só esta frase, que já aprecia no outro livro, e que acho muito interessante:

« Todos os livros, todos os volumes têm alma. A alma de quem os escreveu, a alma daqueles que os leram e viveram e sonharam com eles. De cada vez que um livro muda de mãos, de cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se mais forte...»

O final é surpreendente e dá uma nota de esperança e happy end, estabelecendo a ponte com o já escrito, « A Sombra do Vento ».

5 comentários:

ameixa seca disse...

Até as imagens da capa são super parecidas :)
Este vai para a Academia ou não?
Este autor interessa-me cada vez mais :)

Noémia disse...

Vale a pena lê-lo, o estilo é diferente e o universo das suas personagens peculiar, Ameixa!

Luísa Silva disse...

Também muitas vezes me deixo levar noite dentro. Desconheço o livro mas pela descrição vale a pena perder umas horas de sono!

Unknown disse...

Olá, não estranhes teres ficado agarrada ao livro dessa maneira, eu também o li em 3 dias e uma das noites tive a ler até às 4 da manhã (a Sombra do Vento foi igual), os livros são absolutamente fantásticos, prendem-nos de uma forma que é impossível de descrever, a escrita do Zafón é espectacular, venha o próximo...

Noémia disse...

Olá Pipas, alma gémea, na leitura bem entendido.:)
Concordo perfeitamente com a tua visão dos livros e a incapacidade de descrever o que nos inspiram. Diria ainda, talvez, que são mundos paralelos que nos permitem viver mil vidas diferentes