Dizem que o trabalho dignifica o homem.
Talvez.
Mas que o trabalho escraviza o homem, também é verdade. Sobretudo nos tempos modernos em que cada vez a sociedade exige mais e mais de nós, em que nós próprios exigimos mais e mais de nós. Competimos com os outros e connosco mesmo. O trabalho precário, a afirmação pessoal, a especialização cada vez maior, a procura de melhores condições de vida fazem-nos, por vezes, esquecer os bens essenciais à nossa felicidade. Andamos stressados, num torvelinho de tarefas que aprazamos a nós próprios para ontem, que nos fecham os ouvidos e os olhos para os que estão à nossa volta, para as coisas simples que nos bastariam para sermos felizes.
Esquecemos os amigos, os filhos, a família, esquecemos os prazeres simples da vida, o "dolce fare niente". Cansamo-nos, esgotamo-nos a cumprir um rol de tarefas que julgamos sermos os únicos a poder satisfazer, não sabemos dividir tarefas, desacelarar porque nos julgamos imprescindíveis.
E, às vezes, surprendemo-nos a sermos felizes numa qualquer esquina da vida , numa fila de trânsito que, por acaso nos faz parar em frente ao mar, uma gaivota que nos roça a cabeça, uma criança que solta uma gargalhada. E, de repente, tomamos consciência do vazio e inutilidade da nossa correria e cai-nos em cima a teoria de Agostinho da Silva de que o homem não foi feito para trabalhar . E damos por nós a acreditar.
Damos por nós a temos vontade de atirar tudo ao ar e fugirmos. De caminharmos à beira mar, de telefonarmos a um amigo, de dizermos a alguém «amo-te», sem exigências nem compromisso, só pelo prazer de sentir o calor de alguém, porque há tanto tempo que não sentimos nem fazemos isso que, de repente, essa ausência nos doí fisicamente e é emergente como se não houvesse amanhã.
12 comentários:
por isso que larguei o meu trabalho a um mês ! estou tão mais feliz :D
apareça !
bj
This is so true Noemia. Life is too fast paced now and there is not enough time to really stop and enjoy life.
Como eu te compreendo. Acho isso, penso isso, mas em segundos voltamos ao mesmo. Ficar pelo mais simples, tornou-se quase impossivel, e dividir tarefas nem sempre resulta.
Vem aí a época em que aproveito um pouco mais a vida, pois o frio torna-me mais caseira, e consequentemente aprecio as coisas mais simples, como passar a tarde de sábado em casa com a família, fazer bolachinhas com o filhote, enfim, tu sabes! Mas lá meter travões a este corre corre. Bjs
Olha que estar sem trabalhar é uma grande seca. Não sei que situação a melhor. Tenho a sorte de ser feliz com o pouco que tenho e cada dia tenho sempre um bocadinho mais :)
Olha que o Agostinho devia ser cá um calaceiro he he
No fundo... tens razão, mas não há nada a fazer, né? Joga no Euromilhões, sempre dá pra mandar tudo ao ar e começar a apreciar bem a vida ;)
Ainda bem que se sente feliz, Shi,é tão difícil às vezes! :)
That is so thrue, Kathryn, times run and when we wake up is too late!
Pois, Zé, isto dá-nos às vezes mas passa rápido e voltamos ao mesmo em três tempos. :)
Às vezes, Ameixa, nem é o dinheiro que nos faz correr e ganhar o euromilhões não é a questão. Habituamo-nos a correr e depois é um vício. É como os maratonistas, vamos em sofrimento mas nem pensamos que podemos parar, corremos e corremos sem parar!:)
Eu não trabalho fora, mas em compensação em casa não falta o que fazer ou resolver.
Grande beijo minha amiga.
Tás a precisar do Natal... tás, tás. ;)
Jinhos.
Pois é Ana, em casa também não falta que fazer,resolver, decidir. O pior é acumular esse com o de fora, aí fica bem mais pesado, não é?:)
Tou, tou cheeseman. Acho que isto é nostalgia de não ter ido de viagem!Jinhos :)
ainda estás a tempo... enquanto a ásia não chegar a casa... ;)
Noémia, escreveste um texto inspirador. Às vezes também sinto isso, esse vazio, esse ritmo quase mecânico de viver sempre a mesma rotina. É fácil ficarmos fartos, cansados e com dificuldade de encontrar algum sentido neste acto de ir trabalhar.
Ganhamos € nos final do mês, contribuímos para a sociedade, tudo bem, mas de vez em quando temos que fugir da rotina ou enlouquecemos:)
Bjs
Parece que entraste no meu pensamento... Ultimamente sinto cada vez mais a pressão de que falas, a falta de tempo para tudo e para todos... Se fosse possível, já teria mandado o trabalho às urtigas, pois a carreira escolhida por vocação há muito revelou o seu lado menos bonito... Enfim, é preciso valorizar as pequenas coisas e esquecer que são mais os dias em que chagamos a casa aborrecidos do que os alegres!
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