Na minha quinta ouve-se a calma.
Não o silêncio, porque esse é cortado de vez em quando por um avião que passa, riscando devagar os céus; mais raramente pelo silvo forte e rápido do comboio que, lá longe, numa ponte sobre o Neiva, grita "estou com pressa, estou com pressa".
E depois, o silêncio aqui é impossível, pela sinfonia constante dos passarinhos, que me fizeram companhia nestes dias, em que, eles e eu, estivemos em "retiro espiritual"; eu para retemperar o corpo e fortalecer o psíquico, que isto de andar sempre a correr, sempre a resolver situações, a tomar decisões, a valer a uns e a outros, a resolver problemas sem fim, esgota-nos e deixa-nos à beira de um ataque de nervos.
E foi assim, em comunhão com a natureza, com o bálsamo do som do vento nas árvores e o cantar dos pássaros, sonhando com partidas e viagens sempre que ouvia ao longe um avião, ou lembrando as palavras do principezinho, de que os homens nunca estão satisfeitos no local onde estão e que apenas as crianças esborracham o nariz contra o vidro das janelas dos comboios, porque sabem o que é importante, que recuperei a minha paz interior.
E para além de fiar, tricotar, pintar e dormir, teci este Maio para colocar no portão e festejar a entrada deste novo mês.
A origem da tradição das Maias perde-se no tempo e pode ter várias explicações. Segundo alguns, a Maia era uma boneca de palha de centeio, em torno do qual havia danças toda a noite do primeiro dia de Maio. Por vezes, podia ser também uma menina de vestido branco coroada com flores, sentada num trono florido e venerada, todo o dia, com danças e cantares.
Ainda segundo outros, o nome do mês de Maio terá tido origem em Maia, mãe de Mercúrio, e a ele está ligado o costume de enfeitar as janelas com flores amarelas.
A colocação de giestas faz-se no dia 30 de Abril para que as casas estejam floridas no momento em que começa o dia, para o «Maio», o «Carrapato» ou o «Burro» não entrarem. O «Maio» ou o «Burro» são entidades nocivas, cujo malefício se pretende conjurar com uma oposição de flores ou a manducação de certas espécies.
Seja como for, todos estes rituais pagãos estavam ligados ao rito da fertilidade para com o novo ciclo da natureza, à celebração da Primavera ou ao início de um novo ano agrícola.
Mais tarde, houve necessidade de lhe incutir algum sentido religioso, promovendo a sua ligação à Festa da Santa Cruz ou ao Corpo de Deus. Esse facto pode justificar a lenda do Alto Minho, segundo a qual Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino Jesus, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime... A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de giesta florida à porta, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus, ser morto.
(texto retirado do site http://www.cm-mirandela.pt/index.php?oid=3810 de Ernesto Veiga de Oliveira)