quarta-feira, 5 de agosto de 2015

QUINTANILHA


Há já muito tempo que não passava uns dias na aldeia. Nada melhor do que o pretexto dos anos do meu pai para ir lá ficar.
Tudo tão diferente da aldeia da minha juventude, onde eu passava um mês de férias. As casas, as ruas, a fonte, continuam as mesmas mas parece uma aldeia fantasma.
O tempo mede-se de uma forma diferente da dos relógios convencionais. O tempo rende...
Tantas pessoas que desapareceram, entre elas os meus avós.
Tantas casas fechadas! 
Falta o riso das crianças. 
Não há bandos de jovens a conspirar pelos cantos, partidas, bailaricos ou namoros.
O céu estrelado das noites de estio da minha infância continua lá. Todas as constelações que o meu pai me ia assinalando no céu e que eu aprendi até hoje, também lá estão.Os "sputniks" e as estrelas cadentes ainda riscam os céus, se estivermos atentos. Mas desapareceu o "pau" e as pedras, onde as mulheres e homens da família, se sentavam à noite, à porta de casa, a apanhar o fresco, a por a conversa em dia, as piadas e gargalhadas, mais os mexericos trazidos por aqueles que iam passando e ficando também.
Tantas saudades!
Já não chiam os carros de bois pelas ruas, aqueles de quem eu apanhava boleia só para sacudir o tédio, sentada lá atrás, até ao cimo da aldeia, onde descia de escorrega na palha dos medeiros. 
Agora não há bois, nem quase se vêem cães nem gatos. 
Nem carros de espécie alguma.
Só se ouve o silêncio!
O café fechou. Tantos jogos de matraquilhos lá jogados, não havia quem me vencesse, tantas bilharadas, jogos de sueca, bailes com pasodobles e tangos,  riscando o chão a preceito.
Há outro, é certo, mas mais recente, sem memórias e quase sem ninguém, serve unicamente para tomar um café  e mais nada.
Devoro a paisagem tão familiar por onde correm os meus fantasmas, os montes, as árvores, o rio, a aldeia vista da ponte.
Lá ao longe Nuez  avistada do alto das Veigas, quilómetros palmilhados sem cansaço para ia às festas,
Do outro lado da ponte, S. Matín del Pedroso onde a minha avó, mãe , madrinha, duas primas e eu ainda pequena, iamos às compras de pimenton, de bombazine, pratos esmaltados. Eu comprava um estojo novo, com os lápis de cor, borracha, aguça bem presos nos elásticos, para o início das aulas. Coisas que não havia do lado de cá. Ainda hoje é indizível a alegria que me davam esses estojos.
Sinto um nó na garganta e uma estranha humidade nos olhos.
Foi uma era que terminou.


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