Num fim de semana chiripitis à vida, no outro a dor.
A minha mãe teve um AVC.
A minha alma negra, negra, negra viveu dias de imenso pesar e dor.
Acho mesmo que não há palavras para descrever a noite que se abateu sobre mim.
A minha mãe viveu oito dias numa unidade de AVCs e está há 15 dias internada, eu acampei no hospital e o meu coração esteve também, lá, internado com ela.
A Madaleninha (como chamamos à minha mãe, quando era pequenina), a do retrato dos cinco anos, sorridente e feliz, de franjinha, vinha-me constantemente à memória e vi-a enrolada no teu corpo fragilizado e doente, abandonado naquela cama de hospital e nas palavras infantis e perturbadas que pronunciavas.
Tão assustada como ela, queria pegar-lhe na mão, levá-la dali e fugirmos. Escondermo-nos no canto do meu escritório, abandonarmo-nos à música calma das tuas palavras, à lengalenga da tua conversa sobre política, religião e todos os temas que te preocupavam, como em tantas e tantas tardes em que tu, mamã, falavas interruptamente e eu cosia trapinhos, soltando uns breves "hum-hum".
Mas desta vez estar atenta, "sem desligar o aparelho", embalada na saudade da tua ausência, no temor de que podia ser o nunca mais.
Felizmente a medicação feita a tempo, os cuidados de todos e a vontade de Deus, fez com que recuperasses bastante.
O perigo existe.
A recuperação total é lenta.
Mas a transferência para o serviço de neurologia tornou o negro em cinzento escuro e nos dias em que estás melhor em cinzento mais claro...
E com fé esperamos todos que em breve possas regressar à rotina dos nossos dias e, se a vida não voltar a ser a mesma coisa, podermos, mesmo assim, congratularmo-nos com a presença uns dos outros.