Hoje é o último dia do ano e não podia deixar de escrever aqui alguma coisa...
Não coisas agradáveis, nem muito alegres, nem planos de mudança ou promessas de melhoria, nem desejos de nada.
O ano passado, por esta altura, teve a minha mãe um AVC, saiu do hospital a tempo de vir passar o Natal a casa. Se as festas não foram o auge da felicidade, foram pelo menos em união e com o coração já descontraído.
Este ano, o meu pai teve uma trombose na segunda feira da semana passada e na terça feira, véspera de Natal, um AVC.
Passei esta semana toda com o coração negro, apertadinho, com um pedregulho cá dentro do tamanho e peso do mundo. Prostrada diante do meu menino Jesus, em oração, com uma vela acesa que espantosamente ardeu, sem parar, três dias.
E o Menino Jesus fez o milagre...
Do diagnóstico tão negro e reservado do primeiro dia, passou-se a um mais favorável, dois dias depois os TACs começaram a mostrar que podia haver melhorias.
O perigo ainda existe, o meu pai ainda está na unidade, está paralisado do lado esquerdo, não sei como vai ficar, se ficar...
Dizem-me todos "ai coitada, que festas", " olha que andas com um azar, tudo te acontece"...
E eu não consigo explicar-lhes o inexplicável.
Que vivi um Natal em profunda comunhão com Deus.
Que depois do medo e da dor inicial da perda, me entreguei completamente nas Suas mãos e aceitei a Sua vontade, como um desígnio que me escapava. Mas aceitei.
Que a partir daí, senti que Ele aligeirava a minha carga, a minha dor.
Senti que estava comigo mas, sobretudo, que estava com o meu pai.
Este não é o sítio para este tipo de partilhas, um vulgar e banal blogue de receitas e trapinhos...
Quem vem lê-lo de fugida ou distraído pode julgar, de ânimo leve, que se trata de uma pieguice minha, uma fragilidade devido à emoção do momento.
No entanto, tinha que dar, aqui, testemunho da minha vivência deste Natal e uma acção de graças a Deus por tudo o que me tem dado.